3º ANO C - SOCIOLOGIA
3º ANO C - SOCIOLOGIA

 

REFERENCIAL CURRICULAR DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Rede Estadual de Ensino

ENSINO MÉDIO

SOCIOLOGIA

TERCEIRO ANO

4º BIMESTRE

Tecnologia e sociedade

História da comunicação e Informação nas sociedades

A tecnologia da informação e as relações sociais

Internet e outros meios de comunicação de massa

Tecnologia estético-corporal e o consumismo

 

 

(FONTE: http://conceito.wordpress.com/2007/06/06/19/)

AS NOVAS TECNOLOGIAS E A SOCIEDADE

http://conceito.wordpress.com

As novas tecnologias apresentam diversos prós e contras com relação à sociedade, sendo muitas delas benéficas. No entanto, em outra ótica, não podemos deixar de observar um lado sombrio e perverso que se esconde por trás deste maravilhoso avanço tecnológico. O desenvolvimento tecnológico vem deixando há muito todos boquiabertos com as inovações do mercado tecnológico. É devido a este desenvolvimento que temos acesso à informação de uma maneira extremamente rápida. Como num passe de mágica podemos ter acesso a textos contidos em qualquer canto do globo desde que faça parte da rede mundial de computadores. Com o advento da Internet, passou-se a ter acesso a bancos, supermercados, restaurantes, farmácias, entre muitas outras facilidades do cotidiano, sem sair de casa. Todavia não se pode deixar de observar o lado negativo destas novas tecnologias e facilidades. O lado que contribui com a segregação do homem. Enquanto a tecnologia barateia os custos do deslocamento da informação para o usuário doméstico, as grandes empresas também se utilizam desta mesma benesse, o que pode acarretar em uma força que age em detrimento da sociedade. Nesta análise não se pode pensar apenas na máquina da unidade de produção, que faz muitas vezes mais rápido o mesmo serviço que o ser humano, que por conseqüência desta perde o emprego. Há de serem considerados os prejuízos trazidos de uma maneira muito mais ampla. Não deve ser esquecido que as novas tecnologias fazem parte de um processo muito maior que é a globalização. Considerando este mesmo processo é sábio afirmar que as novas tecnologias contribuem e muito para a segregação dos mais pobres, a qual a globalização propaga. Esta mesma tecnologia, que serve para tantas coisas úteis no dia-a-dia, também serve como facilitadora da mobilidade do capital, e, por conseqüência disso, da própria empresa, que emprega centenas de habitantes de uma determinada cidade. Quando vislumbra que pode haver mais lucros em outro local, abandona facilmente esta região, tendo como base de mobilidade a mesma tecnologia facilitadora da mobilidade de informação. Por certo que não se pode renunciar a toda esta tecnologia, por possuir valiosos prós, e mesmo que se optasse por fazê-lo, não haveria como. Tais tecnologias fazem parte de um processo que não pode ser freado, apenas acompanhado, analisado, sendo de grande valia manter-se ciente de toda esta situação, tornando-se última opção alienar-se com relação às coisas que ocorrem no cotidiano.

Filipe P. Mallmann

TECNOLOGIA E SOCIEDADE: A tecnologia da informação é essencial em qualquer sociedade do mundo e, independente de qual seja o seu padrão de uso nas diferentes atividades profissionais, ela estará presente em todas. Portanto, será diferencial para as pessoas, e estarão incluídas nas atividades de trabalho àqueles que estiverem incluídos digitalmente.  Nesse aspecto, cabe-nos pensar em políticas públicas que sejam efetivas para garantir o uso social das conquistas no setor tecnológico. O Brasil já deu o salto necessário para alavancar o desenvolvimento econômico e social e nós, gestores de empresas públicas, precisamos arregaçar as mangas e continuar trabalhando para garantir esse futuro que o Brasil há tanto almeja alcaar.  Neste contexto, é importante que todos os órgãos que lidam com a questão da tecnologia estejam articulados. É importante desenhar bem o papel que cada instituição – pública, privada ou acadêmica desempenha no processo de cidadania, de crescimento da sociedade para que ela não seja, mais uma vez, abafada com a tecnologia. Nesse milênio, o inovador não é a tecnologia, mas a capacidade de cooperação que ela proporciona, ou seja, como lidaremos, juntos, com problemas sociais e quais soluções apresentaremos.  Com essa diretriz, o Serpro participa da Campus Party, o maior evento de inovação tecnológica e entretenimento eletrônico em rede do mundo,  ao lado de estudantes, professores, cientistas, jornalistas, pesquisadores, artistas, empresários e curiosos que buscam as últimas novidades tecnológicas, a troca livre de conteúdos e o compartilhamento de experiências ligadas ao mundo digital. Essa discussão alonga-se no Fórum Social Mundial, que se propõe, de forma democrática e plural, facilitar essa articulação através de ações concretas de inclusão social em todos os aspectos: social, econômica, tecnológica e digital. Nos dois eventos, o Serpro apresenta-se como a maior empresa pública de TI e expõe principalmente o avanço da empresa na área de software livre, entendendo que, quem utiliza o software livre participa muito mais de um engajamento que muda as relações sociais do que de um movimento que mudaa tecnologia.

 Marcos Mazoni, diretor-presidente do Serpro

 

 


3º BIMESTRE

Movimentos Sociais

Estratificação social

Mobilidade social

Tipos de movimentos sociais: urbanos, rurais, juvenis, ecológicos, etc.

Questões sociais contemporâneas

 

Atividade 01:

Em relação à multiplicidade de interpretações e enfoques sobre o que são movimentos sociais, considere:

I. A análise dos movimentos sociais oferece uma chave teórica e metodológica que pode ser aplicada para além do campo empírico das ações coletivas.

II. Os movimentos sociais podem ser definidos como ações coletivas propositivas que, vitoriosas ou fracassadas, resultam em transformações nos valores e instituições da sociedade.

III. A análise sobre os movimentos sociais não pode ser separada da análise de classe social e pode resumir os movimentos a algo determinado pelas classes.

IV. O movimento social refere-se à ação dos homens na história. Esta ação envolve um fazer, por meio de um conjunto de práticas sociais, e um pensar, por meio de um conjunto de idéias que motiva ou dá fundamento à ação.

V. Os movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais.

Está correto o que se afirma APENAS em:

a)I, II, III e IV.

b) I, II, III e V.

c) I, II, IV e V.

d) II, III, IV e V.

e) III, IV e V.

Atividade 02:

 

A presença dos movimentos sociais é uma constante na história política do país, mas ela é cheia de ciclos, com fluxos ascendentes e refluxos (alguns estratégicos, de resistência ou de rearticulação em face da nova conjuntura e das novas forças sociopolíticas em ação). O importante a destacar é esse campo de força sociopolítico e o reconhecimento de que suas ações impulsionam mudanças sociais diversas. O repertório de lutas que eles constroem demarca interesses, identidades, subjetividades e projetos de grupos sociais. A partir de 1990, os movimentos sociais deram origem a outras formas de organizações populares, mais institucionalizadas. Alguns são de caráter pluriclassista e conjunturais, como o Movimento Ética na Política, a Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria, os movimentos de desempregados, as ações de aposentados e pensionistas. Os movimentos de gênero (relações homens e mulheres), em que se destacam os movimentos de mulheres e os movimentos homossexuais, os movimentos dos afro-brasileiros e o movimento indígena são considerados movimentos identitários e culturais;pois possuem uma identidade centrada em fatores étnicos e raciais e conferem aos seus participantes uma identidade. Há outros movimentos identitários e culturais como os movimentos geracionais, em que se destacam os jovens e seus movimentos culturais expressos, por exemplo, na música, via Hip Hop e Rape tantos outros. Movimentos de meninos e meninas de rua e movimentos de idosos completam os movimentos das gerações. Há, ainda, os movimentos culturais dos ambientalistas, os ecologistas que cresceram muito após a ECO-92.

 

É possível se depreender desse texto a imensa diversidade dos movimentos sociais ocorridos no Brasil. Mas, independentemente dessa diversidade, é possível apontar alguns traços comuns nesses movimentos. Nesse sentido, evidenciando esses traços comuns, correspondem, respectivamente, ao tipo de reivindicação dos grupos envolvidos e a uma de suas possibilidades no ambiente político democrático:

 

A - a luta por direitos e a ampliação da cidadania.

B - o requerimento de melhorias materiais e a revolução social.

C - a defesa dos interesses das minorias e a revolução social.

D - a luta pela identidade das minorias e a ampliação da cidadania

 

Atividade 03:

 

A política ocorre em todos os contextos sociais, inclusive nas relações pessoais íntimas, no seio das famílias e no interior das universidades. No entanto, a sociologia política concentra suas forças, principalmente, nas instituições especializadas no exercício do poder e da autoridade. Tomadas em conjunto, essas instituições formam o Estado. O Estado é constituído pelas instituições responsáveis pela formulação e execução das leis e das políticas públicas e, ao realizar essas funções, regula os cidadãos na sociedade civil, esfera privada da vida social. A esse respeito, julgue os itens abaixo.

 

I - Os cidadãos, na sociedade civil, exercem graus variáveis de controle sobre o aparelho de Estado.

II - Nos Estados autoritários, o controle dos cidadãos é severamente restringido.

III - Nos Estados democráticos modernos, os cidadãos exercem um elevado grau de controle direto sobre o Estado, mediante a escolha de seus representantes.

IV - Entre os elementos de controle do moderno Estado democrático, podem-se apontar os partidos políticos, os grupos de interesse especial, os meios de comunicação de massa e os movimentos sociais. Estão certos apenas os itens:

 

A - I, II e III.

B - I, II e IV.

C - I, III e IV.

D - II, III e IV

 



1. Movimentos sociais: breve definição

 

 
 
 


Exemplo de movimentos sociais

Em linhas gerais, o conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate político, conforme seus valores e ideologias dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específicos, permeados por tensões sociais. Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo a revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou classe social. Seja a luta por um algum ideal, seja pelo questionamento de uma determinada realidade que se caracterize como algo impeditivo da realização dos anseios deste movimento, este último constrói uma identidade para a luta e defesa de seus interesses. Torna-se porta-voz de um grupo de pessoas que se encontra numa mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa, entre outras. Gianfranco Pasquino em sua contribuição ao Dicionário de Política (2004) organizado por ele e por Norberto Bobbio e Nicolau Mateucci, afirma que os movimentos sociais constituem tentativas – pautadas em valores comuns àqueles que compõem o grupo – de definir formas de ação social para se alcançar determinados resultados.

Por outro lado, conforme aponta Alain Touraine, Em defesa da Sociologia (1976), para se compreender os movimentos sociais, mais do que pensar em valores e crenças comuns para a ação social coletiva, seria necessário considerar as estruturas sociais nas quais os movimentos se manifestam. Cada sociedade ou estrutura social teria como cenário um contexto histórico (ou historicidades) no qual, assim como também apontava Karl Marx, estaria posto um conflito entre classes, terreno das relações sociais, a depender dos modelos culturais, políticos e sociais. Assim, os movimentos sociais fariam explodir os conflitos já postos pela estrutura social geradora por si só da contradição entre as classes, sendo uma ferramenta fundamental para a ação com fins de intervenção e mudança daquela mesma estrutura.

Dessa forma, para além das instituições democráticas como os partidos, as eleições e o parlamento, a existência dos movimentos sociais é de fundamental importância para a sociedade civil enquanto meio de manifestação e reivindicação. Podemos citar como alguns exemplos de movimentos o da causa operária, o movimento negro (contra racismo e segregação racial), o movimento estudantil, o movimento de trabalhadores do campo, movimento feminista, movimentos ambientalistas, da luta contra a homofobia, separatistas, movimentos marxista, socialista, comunista, entre outros. Alguns destes movimentos possuem atuação centralizada em algumas regiões (como no caso de movimentos separatistas na Europa). Outros, porém, com a expansão do processo de globalização (tanto do ponto de vista econômico como cultural) e disseminação de meios de comunicação e veiculação da informação, rompem fronteiras geográficas em razão da natureza de suas causas, ganhando adeptos por todo o mundo, a exemplo do Greenpeace, movimento ambientalista de forte atuação internacional.

A existência de um movimento social requer uma organização muito bem desenvolvida, o que demanda a mobilização de recursos e pessoas muito engajadas. Os movimentos sociais não se limitam a manifestações públicas esporádicas, mas trata-se de organizações que sistematicamente atuam para alcançar seus objetivos políticos, o que significa haver uma luta constante e em longo prazo dependendo da natureza da causa. Em outras palavras, os movimentos sociais possuem uma ação organizada de caráter permanente por uma determinada bandeira.


Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

 

Conceito de estratificação social

Sumário

1. Que é estratificação social
2. A sociedade de castas
    2.1. As castas e a sociedade hindu
3. A sociedade de estamentos
4. A sociedade de classes


1. Que é estratificação social

É o agrupamento dos membros de uma sociedade em camadas ou estratos superpostos e hierarquizados segundo algum critério de importância sociológica.

Praticamente todas as sociedades desenvolvem sistemas de relações hierárquicas ou estratificação social. Se não existisse estratificaçâo em uma sociedade, esta, necessariamente, possuiria uma população pequena e homogênea. Suas ocupações seriam de tal natureza, que não existiria qualquer divisão de trabalho, nem haveria competição, nem conflito. É difícil imaginar uma sociedade que atenda a estas condições, a não ser em circunstâncias muito incomuns ou realmente primitivas. Uma sociedade mal consegue durar sem uma divisão de suas funções sociais. (...)

A origem básica da estratificação repousa na tendência universal para avaliar socialmente as diferenças conseqüentes às distinções biológicas e culturais das pessoas. Estas variações socialmente significativas conduzem a posições diferenciadas que acarretam doses distintas de prestígo e consideração. Já que algumas destas diferenças estão ligadas às posições na sociedade, o respeito, a consideração, o prestígio e o poder a elas ficam associados. Influenciam a participação na sociedade por causa das desigualdades sociais que criam. [1]

É comum representar a estratificação social de um grupo através da pirâmide fatiada horizontalmente. Essa imagem permite a visualização estatística dos números de cada estrato.

Na pirâmide abaixo, as setas sugerem um outro conceito importante: o da mobilidade que consiste no deslocamento dos indivíduos ou de grupos dentro da pirâmide. Esses deslocamentos podem ser verticais ou horizontais, ascendentes ou descendentes.

Mobilidade vertical e horizontal
Gráfico de mobilidade social

A mobilidade vertical (ascendente ou descendente) é determinante para verificar o grau de dinamismo. Em geral, os deslocamentos verticais incorrem em mudanças de status (medida do grau de importância social do indivíduo ou classe). Variações de status normalmente são indícios de uma sociedade de classes. Mudanças frequentes e abruptas no status é indicativo de processos de reforma, revolução ou restaurações social. Por outro lado, se a mobilidade vertical chega a ser quase zero, não havendo modificação no status dos sujeitos, é que estamos tratando de uma sociedade de castas ou estamentos.

2. A sociedade de castas

A sociedade de castas é marcada pela rididez na hierarquização. Baseia-se na hereditariedade, na profissão, na etnia, na religião, determinando uma situação de respeitabilidade. A definição desses critérios ocorre a partir de um conjunto de valores, hábitos e costumes definidos pela tradição.

O sistema de castas assenta-se numa relação de privilégios que alguns indivíduos possuem em detrimento dos demais. Esse tipo de organização social parte do pressuposto de que os direitos são desiguais por natureza, uma vez que os elementos que os caracterizam são definidos fora dos indivíduos - por exemplo, o critério para a definição de cargos e profissões se dava pela hereditariedade (o guerreiro, o sacerdote fariam os seus filhos também guerreiros e sacerdotes).

Pode-se dizer que, nas sociedades antigas, a organização social baseava-se no sistema de castas. As desigualdades políticas, jurídicas, religiosas, etc. expressavam-se através do lugar que o indivíduo ocupava na estrutura de cargos e profissões, definidos pela hereditariedade, em primeiro plano.

A Grécia antiga pode ser tomada como exemplo da especialização hereditária, com a caracterização das famílias a partir de suas profissões família de médicos, de sacerdotes, de guerreiros, e assim por diante.

A forma de apropriação da terra dava-se com base num corpo de valores que a legitimava e a deixava disponível a determinados grupos sociais e inacessível a outros. Acessível para os sacerdotes, reis e soldados. Heródoto (484-425 a.C.) chegou a definir três classificações para a terra: terras militares, terras reais e terras sagradas.

Note-se, pois, que as desigualdades sociais aparecem no mundo antigo praticamente sem artifícios para amenizá-las: o escravo nasceu para ser escravo, da mesma forma que alguns homens nasceram para dominar. Aristóteles (384-322 a.C.) defendia claramente essa idéia.

2.1. As castas e a sociedade hindu

Ainda hoje existe na Índia o sistema de castas, embora modificado, pois coexiste com um sistema de classes sociais; mesmo assim, o estudo dessa sociedade pode nos oferecer vários elementos para a compreensão dessa ordem social.

Uma das características que marcaram a estratificação social hindu foi a hereditariedade; o nascimento era a condição básica para se definir uma dada posição na ordem social. A hierarquização dava-se também com base na hereditariedade e nas profissões, que definiam os indivíduos como pertencentes a grupos de status diferentes. Nem sempre o caráter hereditário e o profissional convergiam. Por exemplo, dois indivíduos podiam desempenhar a mesma profissão, mas pertencer a castas diferentes por hereditariedade, o que não os colocava em condições de igualdade.

Os pertencentes à casta inferior eram considerados impuros e não podiam nem sequer prestar serviços aos membros das outras castas superiores. A idéia era de que tudo o que os impuros tocassem ficava contaminado, seja alimento, água ou roupa.

Apenas as castas puras (superiores) eram consideradas aptas a desempenhar funções públicas e a participar de determinadas atividades religiosas. As castas impuras eram praticamente segregadas, a elas não sendo permitido freqüentar escolas, templos etc.

De forma absolutamente generalizada, é possível dizer que as quatro castas principais na Índia, durante muito tempo, foram: brâmane (brahmin - casta superior a todas), chátria (ksbatriya - casta intermediária formada pelos guerreiros), vaixiá (vaishya - casta intermediária, mas abaixo da chátria, formada pelos comerciantes, agricultores e pastores) e a sudra ou pária (casta inferior a todas as demais - a dos impuros).

Essa é uma divisão geral que não abarca a complexidade da divisão de castas por regiões, tampouco as intermediações que existem entre elas. Por exemplo, entre as castas brâmane e chátria existem diversas outras (a rajput é uma delas), assim como entre a chátria e a vaixiá, e assim por diante. Os brâmanes se dividiam em várias subcastas: brâmane gujarat, brâmane kanaujia, brâmane konkanastha, etc. Também os sudras se dividiam em grupos, e cada grupo possuía várias castas.

Qualquer exemplo sobre a relação entre as castas na Índia tem que ser regionalizado, uma vez que cada região conserva um modo próprio de tratar essas questões. Na região de Bengala, as castas se dividiam em dois grupos principais: os brâmanes e os sudras. Nem todos os sudras eram considerados intocáveis. Havia uma divisão dos sudras em quatro grupos: sat-sudra e jalacharaniya-sudra (não eram intocáveis), jalabyabahrya-sudra (quase intocáveis) e asprisya-sudra (totalmente impuros ou intocáveis).

Como mostra G. S. Ghurye, no livro Casta, classe e ocupação, as castas inferiores consideradas totalmente impuras não podiam entrar nos pátios dos grandes templos. Na região de Maratha a sombra de um impuro não podia atingir um membro de uma casta superior. Existiam regiões na Índia que estabeleciam que as castas inferiores tinham de manter uma distância de 24 passos dos brâmanes para que a sombra de um membro de uma casta inferior não se projetasse jamais sobre um elemento de uma casta superior.

Outro exemplo citado por Ghurye é que, no norte da Índia, algumas castas inferiores só se alimentavam depois de beber um pouco da água em que um brâmane houvesse mergulhado o polegar do pé.

Mas como se apresentam as relações entre as castas na atualidade? Pode-se dizer que se mantêm nitidamente esses costumes e essas tradições apontados anteriormente, quase na sua totalidade, entre os brâmanes - casta superior a todas - e entre os sudras - que formam as castas mais inferiores, consideradas impuras. No entanto, como nos mostra o cientista social M. N. Srinívas, no livro Casta na Índia moderna, entre as castas intermediárias há algumas diferenças, uma delas é a não-clareza de hierarquia.

Permanecem, porém, os elementos ligados à dieta, que indica a posição da casta na estrutura social. As castas superiores, por exemplo, não comem alimentos preparados pelos impuros, e um brâmane só se alimenta na companhia de indivíduos que fazem parte de sua casta.

Outro fator relevante na definição das posições das castas, na organização social hindu, na atualidade, é o trabalho, já que as atividades consideradas degradantes são vistas como fatores que rebaixam as posições das castas na estrutura social.

A organização das castas não se dá apenas por critérios econômicos e políticos. É possível assistir a um membro de uma casta intermediária tratar com todas as diligências definidas pelas tradições outro membro de uma casta superior, mesmo tendo este último uma situação econômica inferior à daquele primeiro. Isso dá uma idéia da enorme complexidade do sistema de castas, que envolve não só elementos econômicos e políticos, mas também questões culturais que são cultuadas há séculos na sociedade hindu.

3. A sociedade de estamentos

A sociedade feudal, que vigorou do século IX ao XIV, tinha a sua organização social baseada em estamentos. A tradição contava como um dos elementos fundamentais na definição do conjunto de relações estabelecidas entre os diferentes estamentos: nobreza, clero e servo. A honra, a hereditariedade e a linhagem eram os elementos organizadores dos estamentos.

A sociedade estamental correspondeu a um dado momento da história econômica e política da humanidade. As atividades sociais que cada estamento desempenhava nessa ordem social eram encaradas como funções necessárias à manutenção da sociedade. (...)

Sem nenhuma dúvida, a organização social baseada em estamentos também produz, como na sociedade de castas, uma situação de privilégios para alguns indivíduos. No caso da sociedade estamental, os privilégios estavam diretamente ligados à honra. Aqueles que dominavam (a nobreza e o clero) eram os que se situavam melhor no código de honrarias que vigorava naquela sociedade.

Havia, dessa forma, uma organização social em que os serviços, os cargos e a posse da terra estavam ligados à estruturação do feudalismo. Pode-se tomar como referência a afirmação do sociólogo e filósofo alemão Hans Freyer (1887- ), no seu livro Introdução à sociologia, de que as atividades guerreiras, sacerdotais e de administração pública, bem como a propriedade da terra, eram reservadas aos estamentos dominantes.

Essa relação de privilégios, que tinha fundamento na honra, só era possível porque os estratos não-privilegiados também reconheciam, na hereditariedade, na linhagem, a honra do outro. Ou seja, os dominantes incorporavam, pelo conjunto de valores culturais vigentes (disseminados e sustentados pela Igreja Católica), a idéia de que determinados indivíduos estavam, pela tradição, acima dos demais; o que não queria dizer que a aceitação das regras de dominação abolia a possibilidade de revolta ou o uso da força.

As lutas entre os estratos sociais existiam, uma vez que a desigualdade de direitos levava, em determinados momentos, a rebeliões que não desmantelavam a forma de dominação vigente, mas tentavam impor alguns limites às condições de privilégios de alguns estratos em detrimento dos demais.

A reciprocidade entre o servo (aquele que pagava um tributo pela utilização de um feudo) e o senhor feudal (aquele que detinha largas extensões de terra) fundava-se na relação estabelecida entre servir e proteger: Não ter um senhor que lhe desse proteção fazia com que o indivíduo fosse considerado desprotegido pela lei.

Ressalte-se que a propriedade e o uso da terra no feudalismo implicavam contrair uma diversidade de obrigações, fazendo com que o proprietário estivesse ligado a uma trama de relações não apenas com o servo. Do proprietário, por exemplo, o rei podia exigir serviços militares. Um nobre proprietário poderia exigir de um outro proprietário de terras, em nome do rei, um número determinado de cavaleiros para atuar na guerra. Dessa forma, para manter posições de poder, a nobreza exigia obrigação militar de todos os senhores feudais através dos seus vassalos.

No modo de produção feudal, o que alinhavava as relações entre os diversos estratos ou estamentos era a vassalagem. Esta se fundava, como diz Max Weber, no livro Economia e sociedade, numa relação pessoal de fidelidade. O vassalo contraía inúmeras obrigações, que tinham sua contrapartida nas obrigações que o senhor assumia perante ele. Essas obrigações iam além da submissão a um determinado proprietário de terras: era um juramento de fidelidade que repousava também na força das armas.

Como mostra Barrington Moore Jr., no livro As origens sociais da ditadura e da democracia: "O senhor feudal era um tirano sem leis, nos piores casos, ou, nos melhores, um pai despótico". As obrigações entre eles eram diversas, podendo se enumerar a ajuda de guerra, os ofícios de escudeiro, as funções da criadagem doméstica etc.

Existia uma hierarquia de vassalagem que se superpunha a todos os estamentos e os interligava; do estrato mais inferior (os servos) até o topo da pirâmide social, todos se encontravam ligados por uma trama de obrigações, reciprocidade e fidelidade.

O nobre proprietário (também denominado suserano ou senhor feudal), embora possuísse diversos vassalos, era também um vassalo do rei. Este último era o suserano maior e a ele todos deviam obrigações baseadas na vassalagem.

Max Weber afirma no livro Economia e sociedade que o feudalismo é uma estruturação política patrimonialista por excelência. Isso quer dizer que a organização política obedecia a uma hierarquização na qual a relação de subordinação se dava a partir das obrigações contraídas entre os diversos estratos com base na posse e no uso da terra (daí a designação patrimonial).

A nobreza com menor extensão de terras e que usava a terra de outro nobre devia-lhe subordinação baseada no patrimonialismo. O clero também podia estar hierarquicamente superposto à nobreza, uma vez que controlava uma quantidade exorbitante de terras. O servo era subordinado a um senhor patrimonial, com o qual tinha deveres a cumprir.

O suporte patrimonial das relações estabelecidas definia o tipo de organização política da sociedade feudal. A administração política, os cargos públicos e as atividades de guerras revelavam o quanto a ordem política se mantinha com base nas relações patrimoniais. Na base da dominação estamental, a nobreza ocupava a administração do Estado de forma perfeitamente afinada com os interesses clericais.

4. A sociedade de classes

As classes sociais propriamente ditas expressam as desigualdades e um modo de interpretação das diferenças sociais intimamente ligados à mentalidade moderna e à sociedade capitalista. A complexidade desse tipo de organização social define relações que aparecem para os indivíduos de forma nebulosa. Só são visíveis e palpáveis as desigualdades gritantes. As relações que produzem essas desigualdades, contudo, permanecem obscuras, isto é, os fundamentos de sua existência e as formas como elas se reproduzem.

Numa linha de análise marxista, podemos dizer que a apropriação e a expropriação são elementos básicos que, juntamente com outros, vão delinear o traçado de uma estruturação social desigual. O expropriado é aquele que produz, que age diretamente no processo de produção. O capitalista apropria-se do resultado dessa produção de forma privada. O modo de produção capitalista levaria progressivamente à produção de interesses opostos, antagônicos, como parte do próprio movimento interno da sua estrutura social. As classes se definem como antagônicas tanto no plano econômico quanto no político. Econômico, no nível da apropriação/expropriação; político, no nível da dominação/submissão. A divisão da sociedade em classes sociais não é um dado acidental, casual, mas produzido pelas relações entre os homens. Os sujeitos básicos dessas classes são a burguesia (personificação do capital) e o operariado (personificação do trabalho assalariado).

Em Max Weber, as classes sociais são classificadas segundo o critério do mercado. É que Weber centrou sua análise nas diferenças e especificidades próprias para cada organização social capitalista. Nessa linha foi criado o sistema de status profissional advindo da crescente importância econômica e social do trabalho. Órgãos oficiais e empresas utilizam-na para classificar a sociedade contemporânea aproximando-se dos seguintes termos:

Classe A (média-alta, formada pelo setor administrativo e profissionais liberais); classe B (média, setor administrativo e profissionais liberais de menor porte); classe C1 (média-baixa, funcionários comuns); classe C2 (operária especializada); classe D (operária semi-especializada); classe E (residual, incluindo os dependentes do governo)[2] 

A teoria weberiana das classes sociais se complexifica agregando elementos das outras formas de estratificação. Inspirado em Weber, o sociólogo Alessandro Cavali assim se expressa:

para identificar uma classe social, não basta isolar as características comuns aos membros dessa classe; é necessário ainda observar se, além destas características, os indivíduos revelam um sentimento de comunidade e solidariedade, compartilham um destino comum e uma comum concepção da sociedade, se se reconhecem como iguais e consideram os que não pertencem à classe como diversos.[3]


mobilidade social

A noção de mobilidade social refere-se à transição de indivíduos ou grupos de um estrato ou de uma classe social para outra. Existem dois tipos de mobilidade social: a mobilidade intrageracional, caso em que analisamos a situação dos indivíduos numa geração, isto é, a posição por eles ocupada no início e no fim das suas carreiras; e a mobilidade intergeracional, caso em que analisamos mais do que uma geração, procurando ver, por exemplo, se os indivíduos pertencem à mesma classe social dos seus pais. Em termos de sentido, a mobilidade social (intra ou intergeracional) pode ser ascendente, caso em que, por exemplo, determinados indivíduos ou grupos passam de uma classe social mais baixa para uma classe social mais alta, ou descendente, caso em que determinados indivíduos ou grupos passam de uma classe social mais alta para uma classe social mais baixa.
A proporção de mobilidade social ascendente ou descendente é, habitualmente, tida como um indicador do grau de "abertura" de uma sociedade e relaciona-se, portanto, com o sistema de estratificação social que nela vigora. Neste sentido, as sociedades de classes parecem ser aquelas em que a mobilidade social é mais evidente, embora a sua proporção real não seja tão grande como geralmente se supõe, e atingindo privilegiadamente determinados estratos ou classes sociais, em detrimento de outras. A mobilidade social tende a ser, maioritariamente, de curto alcance, isto é, as pessoas tendem a mover-se entre estratos, frações de classe ou classes sociais próximos, sendo rara a mobilidade de longo alcance. Do mesmo modo, a mobilidade ascendente parece também assumir maior dimensão do que a mobilidade descendente. Embora seja possível referir estas tendências gerais, a sua extensão, todavia, difere de acordo com as características da sociedade concreta que estejamos a analisar.
Face à questão da mobilidade, os sociólogos estão interessados em analisar duas questões: quais os fatores que subjazem aos processos de mobilidade e como atuam; e quais as consequências da mobilidade para uma sociedade e/ou para os indivíduos. Quanto à primeira questão, os processos de mudança social, suas características e extensão, estão ligados a alterações no funcionamento estrutural de uma sociedade, por exemplo, processos de urbanização ou de industrialização, alterações na estrutura ocupacional dessa sociedade ligadas ao funcionamento do sistema produtivo, ou reestruturações do próprio sistema produtivo. Assim, uma alteração no tecido produtivo, em que este passe a exigir indivíduos com qualificações mais elevadas, pode facilitar processos de mobilidade ascendente a certos indivíduos ou grupos, mudando a sua situação no decurso da sua vida (mobilidade intergeracional) e, eventualmente, conduzindo a modificações ao nível da mobilidade intergeracional. Relativamente à segunda questão, ligado a cada estrato ou classe social há um conjunto de comportamentos, valores, atitudes, etc., que os distinguem entre si - um processo de mobilidade social implica, pois, necessariamente, embora em grau variável, a conversão, pelo menos parcial, dessas "características", significando isto que algumas se manterão, mas outras serão substituídas. Bourdieu (1985, La distinction: critique sociale du jugement) refere-se a estas "características" utilizando o termo habitus e mostra como este funciona, simultaneamente, como elemento distintivo e elemento identificativo de um estrato, fração de classe ou classe social face a outros estratos, frações de classe ou classes sociais. Produzindo-se alterações ao nível dos indivíduos, modificam-se também certas características da sociedade, tomada no seu conjunto - alguns estudos parecem indicar que as sociedades que apresentam maior mobilidade social são também sociedades mais estáveis e mais moderadas em termos políticos.
 

18-05-2011

21:06:14

 

Trabalho

Formal, informal, infantil e desemprego

 

O pássaro joão-de-barro constrói o seu ninho com pequenos galhos de árvores, fibras e terra. Essa construção leva, aproximadamente, sete dias. Essa atividade, no entanto, não é considerada trabalho.

O
trabalho é uma realização dos seres humanos. Ele é fruto de uma reflexão, é algo pré-estabelecido e planejado.

O homem, ao longo da história, sempre foi se aproveitando dos conhecimentos e dos instrumentos que outros homens, que viveram antes dele, haviam desenvolvido. Nesse sentindo, os homens vão inovando, vão acrescentando conhecimentos sobre aqueles herdados do passado.

Ocorre, assim, um acúmulo de conhecimento que possibilita, entre outras coisas, um desenvolvimento tecnológico cada vez maior. Já os outros animais vão repetindo o que é feito; os pássaros da espécie joão-de-barro, no decorrer do tempo, não mudam a maneira de fazer a sua casa.

Ao trabalharem, as pessoas desenvolvem a sua capacidade de agir, de criar e de transformar. Estão colocando em prática habilidades, experiências, conhecimentos que possuem, mas, ao mesmo tempo, estão tentando obter o que necessitam para a sua sobrevivência e das pessoas que delas dependem - por exemplo, filhos ou pais. Ao produzirem, prestarem um serviço, comercializarem, realizarem uma atividade criativa, as pessoas estão, geralmente, contribuindo para o bem da sociedade.

As relações no trabalho

O trabalho determina relações entre a sociedade e a natureza, e também possibilita o estabelecimento de relações entre as pessoas. Por meio do trabalho, as pessoas: agem sobre a natureza, transformando-a; atuam nas paisagens humanizadas (artificiais ou culturais), modificando-as; intervêm, enfim, no próprio espaço geográfico, desenvolvendo diversos tipos de atividades, que criam e recriam esse mesmo espaço.

No dizer do geógrafo Milton Santos, "viver, para o homem, é produzir espaço. Como o homem não vive sem trabalho, o processo de vida é um processo de criação do espaço geográfico".

As relações de trabalho são um aspecto importante das relações que existem no interior das sociedades. Na maior parte das sociedades no mundo atualmente, as pessoas desempenham funções no processo produtivo (indústria, agropecuária etc), na prestação de serviços (administração pública, saúde, educação, transporte, banco etc) e no comércio, enfim, em alguma atividade econômica.

Divisão de tarefas

Há, em praticamente todas as atividades, uma divisão de tarefas. Na atividade produtiva em empresas industriais, por exemplo, sobretudo nas grandes, há uma quantidade grande de funções, tais como os operários, os supervisores do processo de produção, os funcionários do recebimento de matérias-primas, os vendedores e demais empregados que trabalham no departamento de vendas ou comercial, os funcionários dos setores administrativo-financeiro, de segurança do trabalho, do controle de qualidade, do desenvolvimento de produtos etc.

Em todos os setores existem os diferentes níveis hierárquicos ou funções, sendo que os diretores formam o grupo dos dirigentes, juntamente com os que ocupam cargos de presidência. Em alguns casos, os presidentes são os donos das empresas. Mas no caso de muitos grupos empresariais de grande porte, a propriedade da empresa encontra-se nas mãos de várias pessoas que, muitas vezes, não têm uma participação no dia a dia da empresa, comparecendo apenas às reuniões em que são tomadas decisões mais importantes.

Salário e lucro

O papel ocupado ou a função que a pessoa desempenha em alguma atividade econômica lhe confere uma remuneração. No caso dos empregados de uma empresa, por exemplo, essa remuneração pode ser chamada de salário ou de vencimentos, sendo esta muito utilizada para se referir aos rendimentos dos que trabalham em órgãos do governo.

No caso dos donos das empresas, chamados de empresários, essa remuneração é o lucro. Os donos têm poder para determinar o futuro da empresa. Esse poder, chamado de poder econômico, será tanto maior quanto maior for a empresa. Os empresários, juntamente com seus diretores e presidentes, determinam, inclusive se vão investir o lucro nela mesma ou se vão aplicar em outras formas de investimento. Eles têm poder para contratar ou demitir funcionários, decisão, inclusive, que muitos acabam tomando quando seus lucros diminuem ou não aumentam, por algum motivo.

Desigualdades sociais

Os rendimentos de uma pessoa que está participando de alguma atividade econômica deveriam garantir a sua sobrevivência e a das pessoas que dela dependem em condições dignas. No entanto, sabemos que não é isso o que acontece no caso de milhões de pessoas no Brasil e bilhões de pessoas em todo o mundo. São os rendimentos de uma pessoa que vão determinar a sua situação em termos de condições de vida - alimentação, saúde, moradia, educação, transporte, lazer etc.

A partir da segunda metade do século 19, com o desenvolvimento e a expansão da atividade industrial em países da Europa e nos EUA, e a formação de grandes empresas industriais, os empregados passaram a se mobilizar para conquistarem melhorias nas condições de trabalho, como redução nas longas jornadas que chegavam até 16 horas por dia, descanso semanal remunerado, férias, melhoria salarial etc.

Lutas dos trabalhadores

Essas conquistas sempre foram difíceis e alcançadas aos poucos, uma vez que o empresário, de modo geral, sempre procurou defender a manutenção ou a ampliação de seus lucros. Para se organizarem, terem uma representação perante os empresários e lutarem por seus direitos, os trabalhadores organizaram-se em sindicatos. Muitas vezes, os sindicatos tiveram de recorrer às greves, ou seja, à paralisação das atividades para pressionarem os proprietários das empresas.

Com as lutas dos trabalhadores, desde o século 19, gradativamente e não de forma padronizada (mais ou menos igual) para todos os países, foram oficializados por lei uma série de direitos e garantias em relação ao trabalho. Estruturou-se, assim, uma legislação trabalhista, que não é algo definitivo, mesmo nos países de melhor situação socioeconômica do mundo, como Alemanha, França, Itália, entre outros.

Conforme interesses de empresários e da pressão que exercem sobre os políticos (deputados, senadores, presidente), podem ocorrer mudanças nas leis trabalhistas, que muitos economistas entendem que são necessárias para aumentar o número de empregos, enquanto para outros apenas favorecem os empresários e trazem prejuízo para os trabalhadores.

Trabalho formal, trabalho informal e desemprego

Os trabalhadores que têm registro em carteira e seus direitos trabalhistas garantidos, recolhendo uma taxa para a aposentadoria (contribuição ao INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social), ou as pessoas que, mesmo trabalhando por conta própria (sem que estejam empregadas em empresas ou órgãos do governo), recolhem determinadas taxas, desenvolvem atividades que são chamadas de formais, ou seja, estão de acordo com uma série de leis que se referem ao trabalho e às atividades econômicas. Os trabalhadores que não estão nessas situações são chamados de informais.

Atualmente, no Brasil, aproximadamente metade dos trabalhadores desenvolve atividades informais, não tendo, portanto, direitos trabalhistas garantidos nem condições de receber a aposentadoria (um rendimento) no futuro, quando estiverem idosos e, muitas vezes, sem condições físicas de realizarem atividades econômicas.

Trabalho escravo e infantil

Outros problemas graves no Brasil e em muitos países do mundo, no que se refere ao trabalho, são: o trabalho escravo (cerca de 27 milhões de pessoas no mundo estão nessas condições), o trabalho infantil e o grande número de pessoas que estão à procura de um emprego, mas não conseguem - tratam-se dos desempregados (são aproximadamente 185 milhões em todo o mundo).

Para finalizar, é importante ressaltar que a importância dada ao trabalho, além das idéias a seu respeito, nem sempre foram as mesmas ao longo da história e não são as mesmas em todas as culturas, em todos os povos. Assim sendo, o que aqui expusemos é uma situação geral que se verifica na maior parte das sociedades que há no mundo.

* Anselmo Lázaro Branco é geógrafo, professor do colégio Catamarã e autor dos livros "Viver e aprender História e Geografia", "Geografia Homem & Espaço, Geografia Geral e do Brasil e Geografia




 ATIVIDADES DE FIXAÇÃO DO CONTEÚDO:

Responda:

01.


Trabalho

Formal, informal, infantil e desemprego

Anselmo Lázaro Branco*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

A.C.Olivieri/Página 3

Ninho de joão de barro em galho de árvore

O pássaro joão-de-barro constrói o seu ninho com pequenos galhos de árvores, fibras e terra. Essa construção leva, aproximadamente, sete dias. Essa atividade, no entanto, não é considerada trabalho.

O trabalho é uma realização dos seres humanos. Ele é fruto de uma reflexão, é algo pré-estabelecido e planejado.

O homem, ao longo da história, sempre foi se aproveitando dos conhecimentos e dos instrumentos que outros homens, que viveram antes dele, haviam desenvolvido. Nesse sentindo, os homens vão inovando, vão acrescentando conhecimentos sobre aqueles herdados do passado.

Ocorre, assim, um acúmulo de conhecimento que possibilita, entre outras coisas, um desenvolvimento tecnológico cada vez maior. Já os outros animais vão repetindo o que é feito; os pássaros da espécie joão-de-barro, no decorrer do tempo, não mudam a maneira de fazer a sua casa.

Ao trabalharem, as pessoas desenvolvem a sua capacidade de agir, de criar e de transformar. Estão colocando em prática habilidades, experiências, conhecimentos que possuem, mas, ao mesmo tempo, estão tentando obter o que necessitam para a sua sobrevivência e das pessoas que delas dependem - por exemplo, filhos ou pais. Ao produzirem, prestarem um serviço, comercializarem, realizarem uma atividade criativa, as pessoas estão, geralmente, contribuindo para o bem da sociedade.

As relações no trabalho

O trabalho determina relações entre a sociedade e a natureza, e também possibilita o estabelecimento de relações entre as pessoas. Por meio do trabalho, as pessoas: agem sobre a natureza, transformando-a; atuam nas paisagens humanizadas (artificiais ou culturais), modificando-as; intervêm, enfim, no próprio espaço geográfico, desenvolvendo diversos tipos de atividades, que criam e recriam esse mesmo espaço.

No dizer do geógrafo Milton Santos, "viver, para o homem, é produzir espaço. Como o homem não vive sem trabalho, o processo de vida é um processo de criação do espaço geográfico".

As relações de trabalho são um aspecto importante das relações que existem no interior das sociedades. Na maior parte das sociedades no mundo atualmente, as pessoas desempenham funções no processo produtivo (indústria, agropecuária etc), na prestação de serviços (administração pública, saúde, educação, transporte, banco etc) e no comércio, enfim, em alguma atividade econômica.

Divisão de tarefas

Há, em praticamente todas as atividades, uma divisão de tarefas. Na atividade produtiva em empresas industriais, por exemplo, sobretudo nas grandes, há uma quantidade grande de funções, tais como os operários, os supervisores do processo de produção, os funcionários do recebimento de matérias-primas, os vendedores e demais empregados que trabalham no departamento de vendas ou comercial, os funcionários dos setores administrativo-financeiro, de segurança do trabalho, do controle de qualidade, do desenvolvimento de produtos etc.

Em todos os setores existem os diferentes níveis hierárquicos ou funções, sendo que os diretores formam o grupo dos dirigentes, juntamente com os que ocupam cargos de presidência. Em alguns casos, os presidentes são os donos das empresas. Mas no caso de muitos grupos empresariais de grande porte, a propriedade da empresa encontra-se nas mãos de várias pessoas que, muitas vezes, não têm uma participação no dia a dia da empresa, comparecendo apenas às reuniões em que são tomadas decisões mais importantes.

Salário e lucro

O papel ocupado ou a função que a pessoa desempenha em alguma atividade econômica lhe confere uma remuneração. No caso dos empregados de uma empresa, por exemplo, essa remuneração pode ser chamada de salário ou de vencimentos, sendo esta muito utilizada para se referir aos rendimentos dos que trabalham em órgãos do governo.

No caso dos donos das empresas, chamados de empresários, essa remuneração é o lucro. Os donos têm poder para determinar o futuro da empresa. Esse poder, chamado de poder econômico, será tanto maior quanto maior for a empresa. Os empresários, juntamente com seus diretores e presidentes, determinam, inclusive se vão investir o lucro nela mesma ou se vão aplicar em outras formas de investimento. Eles têm poder para contratar ou demitir funcionários, decisão, inclusive, que muitos acabam tomando quando seus lucros diminuem ou não aumentam, por algum motivo.

Desigualdades sociais

Os rendimentos de uma pessoa que está participando de alguma atividade econômica deveriam garantir a sua sobrevivência e a das pessoas que dela dependem em condições dignas. No entanto, sabemos que não é isso o que acontece no caso de milhões de pessoas no Brasil e bilhões de pessoas em todo o mundo. São os rendimentos de uma pessoa que vão determinar a sua situação em termos de condições de vida - alimentação, saúde, moradia, educação, transporte, lazer etc.

A partir da segunda metade do século 19, com o desenvolvimento e a expansão da atividade industrial em países da Europa e nos EUA, e a formação de grandes empresas industriais, os empregados passaram a se mobilizar para conquistarem melhorias nas condições de trabalho, como redução nas longas jornadas que chegavam até 16 horas por dia, descanso semanal remunerado, férias, melhoria salarial etc.

Lutas dos trabalhadores

Essas conquistas sempre foram difíceis e alcançadas aos poucos, uma vez que o empresário, de modo geral, sempre procurou defender a manutenção ou a ampliação de seus lucros. Para se organizarem, terem uma representação perante os empresários e lutarem por seus direitos, os trabalhadores organizaram-se em sindicatos. Muitas vezes, os sindicatos tiveram de recorrer às greves, ou seja, à paralisação das atividades para pressionarem os proprietários das empresas.

Com as lutas dos trabalhadores, desde o século 19, gradativamente e não de forma padronizada (mais ou menos igual) para todos os países, foram oficializados por lei uma série de direitos e garantias em relação ao trabalho. Estruturou-se, assim, uma legislação trabalhista, que não é algo definitivo, mesmo nos países de melhor situação socioeconômica do mundo, como Alemanha, França, Itália, entre outros.

Conforme interesses de empresários e da pressão que exercem sobre os políticos (deputados, senadores, presidente), podem ocorrer mudanças nas leis trabalhistas, que muitos economistas entendem que são necessárias para aumentar o número de empregos, enquanto para outros apenas favorecem os empresários e trazem prejuízo para os trabalhadores.

Trabalho formal, trabalho informal e desemprego

Os trabalhadores que têm registro em carteira e seus direitos trabalhistas garantidos, recolhendo uma taxa para a aposentadoria (contribuição ao INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social), ou as pessoas que, mesmo trabalhando por conta própria (sem que estejam empregadas em empresas ou órgãos do governo), recolhem determinadas taxas, desenvolvem atividades que são chamadas de formais, ou seja, estão de acordo com uma série de leis que se referem ao trabalho e às atividades econômicas. Os trabalhadores que não estão nessas situações são chamados de informais.

Atualmente, no Brasil, aproximadamente metade dos trabalhadores desenvolve atividades informais, não tendo, portanto, direitos trabalhistas garantidos nem condições de receber a aposentadoria (um rendimento) no futuro, quando estiverem idosos e, muitas vezes, sem condições físicas de realizarem atividades econômicas.

Trabalho escravo e infantil

Outros problemas graves no Brasil e em muitos países do mundo, no que se refere ao trabalho, são: o trabalho escravo (cerca de 27 milhões de pessoas no mundo estão nessas condições), o trabalho infantil e o grande número de pessoas que estão à procura de um emprego, mas não conseguem - tratam-se dos desempregados (são aproximadamente 185 milhões em todo o mundo).

Para finalizar, é importante ressaltar que a importância dada ao trabalho, além das idéias a seu respeito, nem sempre foram as mesmas ao longo da história e não são as mesmas em todas as culturas, em todos os povos. Assim sendo, o que aqui expusemos é uma situação geral que se verifica na maior parte das sociedades que há no mundo.

* Anselmo Lázaro Branco é geógrafo, professor do colégio Catamarã e autor dos livros "Viver e aprender História e Geografia", "Geografia Homem & Espaço, Geografia Geral e do Brasil e Geografia